sábado, 21 de junho de 2014

Medo da chuva


                                           
                                            "Eu perdi o meu medo da chuva
                                             Pois a chuva, voltando pra terra,
                                             trás coisas do ar..."http://youtu.be/vV21CaatJ14

                                              Raul Seixas

Escalada

                            
                                                 Gottfried Helnwein - The master

Grand Hotel Imperiale Moltrasio




Italy, from the Grand Hotel Imperiale Moltrasio, photo by Roberto Roberti.

Trecho surpreendente de Memórias Póstumas de Brás Cubas

Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele me canse; eu não tenho que fazer; e, realmente, expedir alguns magros capítulos para esse mundo sempre é tarefa que distrai um pouco da eternidade. Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contração cadavérica; vício grave, e aliás íntimo, porque o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a narração direita e nutrida, o estilo regular e fluente, e este livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem...
E caem! — Folhas misérrimas do meu cipreste, heis de cair, como quaisquer outras belas e vistosas; e, se eu tivesse olhos, dar-vos-ia uma lágrima de saudade. Esta é a grande vantagem da morte, que, se não deixa boca para rir, também não deixa olhos para chorar... Heis de cair.

(Capítulo 71, “O senão do livro”)

Memórias Póstumas de Brás Cubas


21 de Junho - Nasceu Machado de Assis


sábado, 14 de junho de 2014

METAMORFOSE













Sou camaleoa albina
Mas, grudada no teu tronco,
Me espalho em tua folhagem
E me pinto de arco-íris.


UM CASO PRA SHERLOCK

Troquei todo o meu armário
Gastei todo o meu salário
Modifiquei meu cenário
Pelo mundo caminhei
Apostei na minha sorte
Acionei meu lado forte
Aprofundei meus decotes
O meu pudor subornei
Pesquisei no Planetário
Falei com gênios e otários
Usei guias, dicionários...
Nossa, como eu procurei!
Conversei com Afrodite
Ela me deu uns palpites
Bolei festas, piqueniques
e mesmo assim não achei.
Já nem sei mais que miragem,
que licor, que flor, viagem,
que magia, que massagem,
o que usar e dizer.
Esse tal de amor, menina,
é como o Mapa da Mina,
o velho ET de Varginha,
a alpina flor de um rei.

Alguém já me deu um toque:
- Achar depende de sorte,
é um caso pra Sherlock.
Mas nisso eu nem me liguei.
Pode ser uma bobagem,
uma cena de filmagem,
no espelho uma imagem,
um delírio que eu sonhei.
Pode estar no Everest,
num abismo, no agreste,
nas mãos de um extraterrestre
ou nas terras-do-não-sei,
que essa procura não morre.
Dessa espera tomo um porre
Essa dor me mata aos goles
Esse mal me dá prazer.

Cristina Ribeiro